terça-feira, 4 de maio de 2010

CINE-ARQUIVO JF - EM 2004, O CINE CENTRAL FEZ 75 ANOS


Juiz de Fora sempre foi uma cidade que respirou cultura. Desde o século XIX, já existiam espaços destinados às artes cênicas. Em 1863, é inaugurado o Teatro de Misericórdia, com apresentação do drama "Afonso III" ou "O valido Del-Rey", encenado pelo grupo de alunos do Colégio Roussin. Sete anos depois, a sociedade juizforana recebe o Teatro Perseverança. Também surge o São Sebastião, uma espécie de circo ou lona.

A pequena cidade da Zona da Mata Mineira começa a crescer e o Perseverança não mais consegue atender às necessidades. Resolve-se, então, construir uma casa de espetáculos grande e moderna. Nos últimos dias do Império, inaugura-se o Teatro Juiz de Fora ou Novelli, de propriedade de Alfredo Ferreira Lage. Com programação teatral variada, incluindo artistas locais e de outras localidades, Juiz de Fora passa a ser o grande centro cultural da época. Porém, a notícia de que o Novelli seria demolido por falta de condições de segurança e conforto, abala a população. Juiz de Fora, que já era um pólo industrial e um centro de cultura, ficaria sem teatro.
A necessidade de um teatro era tamanha que, por iniciativa do coronel Jeremias Garcia, foi construído vasto edifício, todo de madeira, na esquina da rua São João com a av. Quinze de Novembro ( Getulio Vargas ), o qual fez época em Juiz de Fora, com a apresentação de notáveis companhias líricas e de operetas italianas. Era o Teatro Variedades.

Ainda estava de pé este teatro, quando se constituiu, em 18 de maio de 1927, a Companhia Central de Diversões, cujo escopo era explorar o negócio de diversões em todo o Estado e construir em Juiz de Fora um grande teatro. Pantaleone Arcuri colocou-se entre os que achavam à frente dessa iniciativa, cabendo-lhe um dos lugares de diretor da empresa, ao lado de Diogo Rocha, Antonio Químico Correa e Francisco Valadares e de Gomes Nogueira, que mantinha em Belo Horizonte dois ou três cinemas.

Foi assim que, no mesmo lugar do antigo e sempre lembrado Polyteama, começa a ser construído em 1928, o Cine-Theatro Central, com o objetivo de ser uma casa de espetáculos à altura do município. Aqui tem início a origem do maior símbolo histórico, cultural e artístico de Juiz de Fora.

O Central surge numa época em que Juiz de Fora despontava como pólo industrial da Zona da Mata Mineira, município de comércio importante e politicamente influente. A cidade estava crescendo, tanto em termos demográficos como fisicamente. Prédios novos estavam sendo construídos, como o do Banco do Crédito Real (1929), a sede da Cia Pantaleone Arcuri (1923 a 1927), o Palace Hotel e a Escola Normal (1930), representantes do início da industrialização brasileira.

A Companhia Central de Diversões é nomeada como responsável pelo trabalho de construção do novo espaço cultural da cidade. A empresa iria implantar uma rede de cinemas, constituída pelo Cine-Theatro Central, Cine Palace, Rex e São Mateus. O projeto de edificação da nova casa de espetáculos foi executado pela Cia Industrial e Construtora Pantaleone Arcuri. O arquiteto Raphael Arcuri assinou a planta arquitetônica do novo teatro: suntuoso, confortável, acústica perfeita, belo, um exemplo de integração entre arquitetura e artes plásticas, com um amplo e arrojado vão de estrutura metálica, sustentado sem pilares era também o edifício mais alto da cidade. Este vão de estrutura metálica, sustentado sem pilares, deixa de ser mera estrutura para se transformar em objeto estético, sob a ação dos pincéis de Ângelo Bigi, pois a boca de cena e a decoração interna foram feitas pelo pintor.

O pintor Ângelo Bigi conceituou com precisão a data de inauguração do Cine Theatro Central. "Foi um dia emocionante", dizia ele. A cerimônia, de 30 de março de 1929, contou inclusive com a presença do Presidente do Estado, doutor Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, além de outras autoridades locais e região. A sessão inaugural trouxe, logo na abertura, "Universal Jornal", seguido pelo drama, em oito atos, de "Esposa Alheia". Uma orquestra foi organizada especialmente para os espetáculos do novo cine-teatro. A orquestra dirigida pelo maestro Duque Bicalho, foi formada pelos seguintes músicos: Domingos Rufulo, violino;Ignacy Ryzowsky, violoncelo; José Victor, contrabaixo; Leonardo Oberg, flauta; Luiz Loreto, clarinete;Lucas Tavares de Lacerda, piston; Daniel, saxofone e João Rufulo, bateria.

A iluminação do espaço ficou a cargo de "A Radial", empresa da cidade de propriedade dos engenheiros F. Sangiori & Oliveira. O projeto previa uma profusão de luz em todos os compartimentos do teatro, como era possível de se perceber também na entrada da rua Halfeld naquela época. A iluminação, da maneira como foi projetada, ressaltava as cores da pintura de Bigi, além de proporcionar uma visão da delicadeza dos tons, em algumas partes do trabalho do artista.

A obra assumiu importante papel ao inserir Juiz de Fora no corredor cultural do eixo RJ-SP-BH, especialmente durante os anos 30 e 40, quando foi o palco de grandes produções nacionais e estrangeiras, com a apresentação de destacadas companhias teatrais e líricas da época.

De meados de 50 ao início dos anos 70, o Central foi cenário dos concertos líricos, das peças teatrais, dos shows nacionais e internacionais.

Só em 1983, ou seja, mais de 50 anos depois, é que o espaço foi tombado como patrimônio histórico. Em 1994, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu o valor do teatro. Durante sua restauração, o instituto acompanhou as obras.

Embora tenha sido tombado em 1983, foi só em 1994 que o Central foi restaurado. Nesta época, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) adquiriu o teatro com recursos do Ministério da Educação. A partir daí, o Central passou a ser gerenciado pela UFJF e pela Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, que providenciaram a restauração do templo cultural da cidade. Atualmente, a administração é de inteira responsabilidade da UFJF.

Os trabalhos de restauração começaram no final de janeiro de 1996, durando oito meses e dez dias. A empresa Espaço – Tempo, especializada em restauração de bens culturais, foi a responsável pela execução do trabalho. Quatro restauradores profissionais foram contratados para coordenar as células de trabalho, formadas por estudantes dos cursos de Artes e Arquitetura e Urbanismo da UFJF. As pinturas do forro estavam descascando e continham grande quantidade de fungos e sais. Além disso, haviam manchas causadas pela inflitração da chuva e as paredes estavam estragadas. Os restauradores tiveram que remover quilômetros de pintura. Ao todo, foram mais de 3 mil metros quadrados de pintura decorativa.

No dia 14 de novembro de 1996, Juiz de Fora teve o privilégio de receber, de volta, o Cine Theatro Central. Desde então, o espaço é palco para diversas manifestações artísticas da cidade.

Em 2004, o Cine-Theatro Central fez os seus 75 anos com grande festa.

Crônica

Fonte: Tribuna de Minas, Arquivo Pessoal, Paulino de Oliveira

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