sexta-feira, 21 de maio de 2010

De Sansão a Avatar


Bons tempos aqueles lá da década de 1960. Ainda pequeno, com menos de dez anos, meu pai me levava de vez em quando ao Cine Vitória ou Cine Brasil em Santos Dumont para assistir a filmes de Hércules e muitas super ou mini produções sobre o Império Romano. Lembro de Sansão e Dalila, com Victor Mature... Mas o cinema, naquela época para mim era mais uma diversão, um brinquedo que se ganhava num domingo, depois de um almoço de frango e refrigerante. Só se bebia refrigerante aos domingos.

Bons tempos aqueles da década de 1970 quando a gente já ensaiava as primeiras paqueras e víamos as meninas mais velhas deixando as salas do Cine Pálace ou do Excelsior (há anos fechado na avenida Rio Branco) com os olhos mareados depois de assistir a um Love Story ou um Dio como Te Amo, ou emocionados após um Irmão, Sol Irmã Lua. Os colegas mais velhos – mas nem tanto – falsificavam carteiras de estudante para ver no Central o Dólar Furado ou algum Ringo ou Django, filmes com censura de 14 anos. Meu pai já não ia mais ao cinema, mas de vez em quando dava uma escapada para assistir no Cine São Luiz, na praça da estação ao 007 contra Dr. No, Goldfinger, Chantagem Atômica e Moscou. Alíás contra Dr. No fui com ele e me espantei, lá com meus 12 anos, com a beleza de Ursula Andrees, saindo do mar, numa das cenas mais marcantes do cinema.

E aqueles anos 70 também trouxeram para as telas grandes tragédias que emocionaram, assustaram e extasiaram platéias. Películas como Aeroporto, Tubarão, Inferno na Torre (Paul Newman, Steve Mac Queen, Fred Asteire...), Terremoto, O Exorcista, o Anticristo... O Último Tango em Paris, com a bela Maria Schnneider, Laranja Mecânica e... Como era Gostosa a Nossa Empregada. As pronochanchadas tinham seu lugar

As salas de cinemas, todas com portas para ruas, eram o grande programa dos sábados e domingos. Aos sábados à noite, o programa era levar a namorada ou a paquera para tirar um sarrinho no escurinho. Muitos desses filmes dali de cima foram vistos aos pedaços porque o beijo, mão no ombro ou mão na mão ou em outro lugar desviava a atenção. Muitas vezes a atenção era chamada por um mala que aparecia com uma lanterna para atrapalhar (saudades dos lanterninhas). Nos domingos à tarde era a vez da bagunça. Era a sessão da turma e à noite das famílias.

Nas portas dos cinemas – todos para a rua – estavam lá os pipoqueiros. Às vezes – e não eram poucas – a pipoca – cheia de queijinho – acabava antes de a gente entrar, porque as filas eram grandes. Lembro-me do filme Terremoto, no cine Excelcior. A fila dobrava a esquia da Floriano Peixoto e chegava lá avenida Getúlio Vargas. Essa era a fila para entrar. A do ingresso virava a esquina da rua Afonso Pinto da Mota.

Bons tempos aqueles da década de 1980, quando Ingmar Bergmann, trazia belos dramas suecos interpretados por Liv Ulmann, exibidos na pequena sala do Cine Festival. Lá cheguei a ver o Ébrio, Eqqus, O Homem Elefante e os berguinianos O Ovo da Serpente e Sonata de Outono. A sala não cabia mais de 110 pessoas, mas sobrava lugar...

FALANDO EM FILMES, agora a gente faz um fusão e entra a legenda “20 anos depois” ou 20 years after . O pipoqueiro não está mais na porta do cinema que agora não é mais para as ruas. A pipoca vendida na loja é cara, não tem queijo e tem um gosto esquisito de microondas. Os filmes perderam muito do romantismo do artesanal: não têm mais linhas cortando a imagem, nem buracos na fita. O som é perfeito – e que perfeição com a distribuição dos sons em toda a sala! As viagens são fantásticas: é como se você estivesse pilotando uma nave ou voando montados em bichos esquisitos como os avatares. É tudo quase tão perfeito que muitas vezes dá a sensação de vazio, porque a perfeição é o a ser atingido. Depois disso é o nada...

Bobagem. Os filmes hoje refletem o público que vai assisti-los, absorvem as demandas psicossociais e mostram aquilo que as pessoas querem ver, assim como eles foram lá naqueles bons tempos. E para ser sincero, sem casmurrice, tem seu charme e até sessões com ingressos a dois reais. Vale a pena.

Ah, o que não vale a pena é a pipoca de cinco reais. Eu pago dois reais para ver um trabalho que custou milhões de dólares e cinco reais por um produto feito no micoondas.

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